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Ruazinha,,,


Ela estava ali, linda e onipresente bem em frente a minha casa.
Era a maior da rua, seu tronco era forte e a gente tinha que arquear bastante a cabeça pra trás pra conseguir ver sua copa.
Na verdade eu tinha me esquecido durante um bom tempo disso, mas acho que nossa própria mente faz a gente estrategicamente lembrar de momentos e sensações só pra não deixar a gente em paz, e faz bem.
Essa árvore era um marco. As crianças marcavam de se encontrar em frente a árvore pra brincar até o dia anoitecer sob seus galhos naquela rua de terra. Os adultos sentavam no banco em frente pra fofocar e falar outros assuntos dos quais a gente nem sequer se interessava.
No inverno era lá que se acendia a fogueira. Naturalmente era ela a guardiã e o centro das atenções da rua.
E guardava ainda um mistério, era inspiração pra nossas cabecinhas imaginativas. Ficava posicionada a frente de um barranco que separava um bairro do outro e percorria toda a extensão da rua.
Era pra lá que rapidamente corriam as bolas dos meninos, que os cachorros iam cheirar e enterrar seus ossos. As meninas por sua vez passavam longe mais com medo das mães que tinham pavor de cairmos lá dentro, do que de fato medo de cairmos lá dentro.
Quando ventava forte e chovia, a árvore se balançava e dava pra se ouvir as suas folhas chacoalhando. Aí vinha o mito de que ela era perigosa e que poderia cair sobre as casas nesses dias. Pros meus pais a preocupação era maior, afinal, a nossa seria o alvo. Na época achava tudo isso emocionante!
Mas hoje o que eu não entendo é porque o sonho da vida das pessoas daquela rua era exatamente derrubar aquela árvore. Durante 10 anos que moramos lá, a reinvidicação, a grande vontade era não só de arrancar a árvore do caminho mas ainda de asfaltar a ruazinha de terra. Vejo hoje que elas tinham falsa idéia de que isso seria o desenvolvimento que precisavam. Lembro claramente que falavam que tinha ônibus circulando apenas nas ruas de cima pois já eram pavimentadas, e nós ainda estávamos comendo poeira na rua de baixo. Pra mim, que andava de patins nas ruas de terra estava tudo certo.... umas pedrinhas aqui, outras ali, uma raladinha no joelho, mas tudo inocentemente certo.
Até o dia em que conseguiram alvará pra derrubar a árvore. Vieram com serra elétrica e toda uma equipe sendo assistida pela vizinhança que comemorava a queda da árvore. Triste! A rua nunca mais foi a mesma... no lugar da árvore e das suas histórias restou um toco.
Era o sinal de que ali já tinho existido vida mas que hoje sobrou apenas um pedacinho morto.. Era um sinal....
Logo depois me mudei daquela rua e vim morar em São Paulo. Sim! Numa rua pavimentada e mais: atrás de um shopping! Aquilo era tudo que eu precisava ostentar para as minhas amiguinhas do interior... que vergonha. Por alguns dias eu me senti realmente superior por causa disso. A menina caipira do interior que agora ia morar na capitar.. Enfim o desenvolvimento que os adultos queriam estava acontecendo!
Os anos passaram, e assim como eu me mudei, e mudei, a ruazinha também mudou.
A rua foi asfaltada. Construíram uma ponte que separava um bairro do outro. Os ônibus agora circulavam pela rua, indo e vindo com os horários decorados pelos moradores da vila. Éramos agora importantes. Nossa rua tinha ponto de ônibus! Podia-se pegar um daqueles no terminal e parar ali naquela rua. Enfim, conseguiram o que queriam...
Mas me pergunto: era realmente o que queriam? Afinal, o que queriam? Acho que não sabem o que queriam...
Voltei lá algumas vezes e pra mim está tudo diferente. A começar do barranco que continua lá, mas ficou horrível sem a terra e as árvores pra acompanhar. Agora o projeto é pavimentar também o barranco e fechar o buraco.
As pessoas já não sentam nas ruas porque digamos que não é muito agradável, mesmo que fofocar, respirando monóxido de carbono. Tudo bem, agora não se ouve mais as folhas da árvore em dias de chuva, mas ouve-se os motores daquele desenvolvimento com a qual sonharam durante tantos anos.
Não se vê se mais as pipas no céu, as marcas de patins na terra, as bolas correndo entre os cachorros e os gritos das mães chamando pra almoçar.... as crianças também cresceram. Estão agora preocupadas em como e quanto deverão receber em espécie no mês para continuar em um eterno desenvolvimento. Esse que ao meu ver, e dessa forma, nesse contexto, não existe! Por razões e motivos mais que claros, como sabem os poucos que vem ler esse blog.
Isso hoje me dói. Estou doendo com atraso, de coisa que já passou e não há nada que se possa fazer pra mudar tal fato. Doendo por saber o quanto isso significa, quantos já passaram por isso em maior ou menor escala. Doendo por saber que tem gente que não dá a mínima. Doendo por saber que tem gente que vai ler e achar que sou uma tola e que isso é um processo normal e natural, e isso me dói mais ainda..não por acharem tal coisa de mim, mas por pensarem de tal forma...
Assistir ontem à uma obra de ficção científica, e reconhecer nela tudo isso que estou falando foi realmente colocar o dedo na ferida.

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4 comentários:

Rogerio Lima disse...

Anjo.
Esse é o nosso legado... tão novos e tão culpados de tudo isso... Acordamos, agora precisamos ver se teremos coragem de continuar... Começamos... nos tocamos... olhamos para a essÊncia e não para os efeitos visuais... é dolorido.. nos cansa... mas vamos em frente...

Beijos

Elen Leite disse...

Ahhh... aquele filme,, toca mesmo! Adorei a história, foi contada poéticamente amiga!

Elen Leite disse...

Dá pra trocar meu link ai no seu blog??? Tá velho isso hein.
http://candyshop77.blogspot.com/

Mezadri disse...

O coracão bate simples, desde de menina...o bom é nunca se esquecer da importância da árvore.

Te amo pretinha companheira divina

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